cultura do endividamento

A cultura do endividamento prejudica pessoas e empresas

           “Embora o endividamento seja considerado um fenômeno relativamente novo em nossa sociedade, o significativo aumento de pessoas endividadas propiciou o surgimento de alguns estudos sobre a cultura do endividamento. Dívidas fazem parte de um contexto econômico geral e dependem de diversas ações internacionais, nacionais, regionais e, inclusive, familiares. A complexidade do tema oferece diversas possibilidades de pesquisas e análises, mas chama-se atenção especialmente para o endividamento pessoal. Considerando que as escolhas financeiras não são regidas apenas pela racionalidade, o endividamento pessoal é visto tanto como efeito de uma gestão financeira equivocada, como resultado de motivações emocionais.

         Muitas decisões financeiras são tomadas por avaliações errôneas, por impulso, por compulsão e, principalmente, pelo significado que determinados produtos adquiridos têmpara cada um. Da compra de um sapato à aquisição de um iate, o status, o poder, a auto-estima e a imagem que se quer passar para os outros são alguns dos motivadores – conscientes e/ou inconscientes – que determinam as escolhas das pessoas no dia-a-dia. Somente a partir do cruzamento das bases teóricas da economia e das motivações psíquicas, torna-se possível analisar e responder, mais adequadamente, a algumas das inúmeras questões surgidas a partir do aparecimento da cultura do endividamento.

         Na contramão do endividamento, encontra-se o investimento. Investir não é exclusivamente empregar capital em um negócio, correspondendo, igualmente, a um deslocamento de sentimentos e energia. É desse modo que as pessoas constroem e regem as suas vidas, os seus portfólios financeiros e emocionais.  Influenciadas por expectativas, frustrações, sonhos, desejos e pelo que imaginam que os outros pensam a seu respeito, na maior parte do tempo não percebem as reais conseqüências dos seus atos.

         O endividamento financeiro, muitas vezes, é consequência do chamado endividamento emocional. Devedoras de uma imagem melhor, de um corpo perfeito, de uma inteligência maior ou de uma dedicação mais intensa aos filhos, as pessoas consomem produtos na tentativa de suprir uma falta. Falta esta que angustia, porque nunca é totalmente preenchida. Mas como lidar com isso numa sociedade que exige e promove um consumo tão acelerado e vigoroso? Receitas ou manuais não são muito eficientes nesses casos, mas educação e análise podem ser armas eficazes nessa batalha.

         Quanto maioresforem o conhecimento na área financeira, a capacidade de crítica frente ao consumo e a análise das emoções que interferem na tomada de decisões, mais aumentamas possibilidades de se romper com a cultura do endividamento e de se obterem investimentos saudáveis, tanto financeiros quanto emocionais”.

O texto acima foi escrito em 2008, qual foi minha triste constatação? Que os números só aumentaram e estamos diante do maior índice de endividamento e inadimplência dos brasileiros. Apesar dos esforços de centenas de profissionais combatendo decisões equivocadas e propagando a educação financeira, ainda temos muito “chão para percorrer”. Obviamente não excluo a recessão econômica mundial, pandemia, guerra e crise política, mas não podemos negligenciar que o consumismo é a causa de milhares de brasileiros com problemas de endividamento.

Moral da história: As empresas ainda são um forte canal para educar e ajudar as pessoas a romperem com a cultura do endividamento, isso representa não só cumprir um importante papel social, mas também evitar prejuízos. Afinal, cerca de 50% dos funcionários das empresas brasileiras estão em situação de endividamento e quem tem alta performance quando está enrolado em dívidas?

Márcia Tolotti é professora em MBAs, palestrante, colunista e escritora. Psicanalista pelo CEL e EEP (entidade vinculada à Associação Lacaniana Internacional); Graduada em psicologia, pós-graduada em psicologia clínica, pós- graduada em psicologia organizacional, exercendo desde 1993 atividades em sua clínica psicanalítica; Mestre em letras e cultura e MBA em Marketing pela FGV; Assessora e coordena a implementação de programas de educação financeira in company,desde 2006, em importantes empresas; Criadora do curso que apresenta o Método STOP (aliando fundamentos da economia, psicanálise, psicologia econômica e neuromarketing). Sócia executiva da Moddo Conhecimento Estratégico. Autora com mais de 50 mil exemplares vendidos. Escreveu “As Armadilhas do Consumo”, editora Campus; “Passageiros do Outono” e “Agricultura Lucrativa Familiar”, editora do Maneco, escreveu “O Desafio da Independência” após pesquisas e cursos ministrados em empresas, numa linguagem clara e acessível para pessoas que buscam construir planejamento financeiro.