Viver é fazer escolhas. Escolher é optar por uma situação em detrimento de outra através do discernimento, e para discernir com êxito, informações são necessárias. Quando um investidor acorda mais cedo para ler um jornal ao invés de ficar um pouco mais na cama, fez a opção de aumentar sua capacidade de avaliação.
Portanto, a escolha é uma decisão racional, objetiva e depende da vontade consciente de cada um. Aplicar em renda variável, optar pela renda fixa ou ser acionista da empresa X são decisões influenciadas pela quantidade de informações, dinheiro e tolerância ao risco, tudo muito prático.
Porém, logo após a decisão tomada muitas pessoas se questionam quanto a atitude: deveriam ter permanecido numa determinada posição ou não? Foi o momento certo para realizar lucro ou saiu cedo demais? Travam um conflito interno entre o pensamento e o julgamento. Este estado é conhecido como dissonância cognitiva, ou seja, é um estado de tensão psicológica vivenciado por uma pessoa diante de duas situações antagônicas ou excludentes.
Por exemplo, para vender um papel, não é possível permanecer com ele, inevitavelmente, uma posição exclui a outra. Quando esse processo racional produz o julgamento: tomei a decisão correta ou errei? Para muitos, a mente aciona um mecanismo de defesa, ajustando o pensamento para garantir a coerência e o sistema de crenças do sujeito. E assim, o investidor justifica – para si mesmo – sua atitude lançando mão do conhecimento técnico: analisou os gráficos, acompanhou o mercado e acordou mais cedo para ler o jornal. Feito isto tudo, está seguro. Será?
Escolhas fazem parte de uma lógica de preferências, isto é, quando uma pessoa está diante de alguns indicadores onde comprar ações da empresa X, Y ou Z que poderão apresentar resultados similares, como fará sua escolha?
Como já sabemos, parte da decisão será pautada pelas experiências passadas, as informações e os riscos percebidos, mas grande parte da tomada de decisão será influenciada por uma sensação de “preferência”.
Independente dos argumentos lógicos que uma pessoa utiliza para explicar sua preferência, permanece algo intangível. Isto ocorre porque as preferências estão ligadas aos afetos e os afetos são inconscientes.
As escolhas além de conscientes e objetivas são, sempre e ao mesmo tempo, inconscientes e subjetivas.
O que determina se uma escolha, especificamente financeira, será benéfica ou prejudicial para o próprio sujeito é a forma como ele se relaciona com os afetos. Frisando, se os afetos são inconscientes, quanto maior for o autoconhecimento, maiores serão as chances de êxito. Quando alguém pensa que tolera risco, não significa que, de fato, tolera.
Do contrário, o efeito manada seria apenas uma falácia. Além disso, se nos processos lógicos e conscientes os riscos são percebidos, obviamente, nos processos intangíveis e inconscientes, os riscos não são percebidos, consequentemente, não podem ser mensurados e evitados?
Não se trata apenas de acreditar ou não na força do inconsciente diante das escolhas, se trata de saber gerenciar os ativos financeiros diante da volatilidade das emoções. O inconsciente oscila e age – sem permissão – de acordo com o “mercado pessoal interno”, psíquico e afetivo de cada sujeito, e como sabemos, os mercados são diferentes, instáveis e, geralmente, não sabemos o que poderá afetá-los.
O autoconhecimento e uma análise profunda do significado, em última instância, do dinheiro na vida de cada um poderá tangibilizar as influências das escolhas, proporcionando, investimentos financeiros e afetivos saudáveis e sustentáveis, inclusive, no longo prazo.