Pergunta: Na sua opinião, qual é o perfil das mulheres que passaram dos 40? Você acredita que elas estão refletindo a modernidade que estamos vivendo?
Resposta: É impossível estarmos distantes do nosso tempo. Mas o que significa exatamente “ser moderno”? Essa é uma questão bastante estudada, não somente pelo aspecto estético, mas do ponto de vista das relações sociais.
Cientistas políticos se ocupam do conceito da modernidade. A consequência do que seja a modernidade é nosso cotidiano e vivemos sob a égide da banalização, ou seja, a performance ocupa o lugar daquilo que chamávamos de essência.
Então não precisamos mais ser, basta parecer ser. Isso tem um efeito bastante intenso, pois os valores vão sendo enfraquecidos e a aparência é o foco primordial. A mulher reflete sim essa “modernidade”, assim como os homens e as crianças.
Ainda assim, podemos traçar um perfil: a mulher de 40 anos está mais ativa, trabalha, defende seu espaço dentro e fora de casa, tem cuidados com saúde, com beleza, com cultura, com os filhos e com as relações afetivas em geral. E ainda, não se submete a casamentos infelizes, não se deixa massacrar por preconceitos mesquinhos e acima de tudo, busca sua felicidade.
Mas, o preço ainda é bastante alto. Por exemplo, as doenças cardíacas começaram a atingir as mulheres, sendo consideradas o grupo de risco que mais cresce no mundo, justamente, por estarem sujeitas ao mercado competitivo e ainda acumularem as tarefas domésticas.
Pergunta: Como é possível viver a modernidade sem cair no ridículo?
Resposta: Como a mulher pode manter-se atualizada sem deixar de viver a idade real que se encontra? A grande crítica da atualidade é que as pessoas, e não somente as mulheres, estão tendo muita dificuldade de envelhecer.
Vivemos um apelo do “eterno jovem”. A juventude fica cada vez mais procrastinada, é quase um insulto envelhecer, ter rugas. Não deixamos de viver o mito de Peter Pan, aliás o filme Em busca da Terra do Nunca, retrata essa busca pela terra da eterna infância. E, ridículo seria o quê?
Também não podemos cair na escolha de vida a partir do olhar dos outros, esse é o pior cárcere que existe. Escolhas são subjetivas e pautar a vida pelo pensamento alheio é deixar de viver.
Pergunta: O que a mulher madura pode fazer para viver melhor e sentir-se bem consigo mesma?
Resposta: Outro dia vi uma jovem lendo um livro sobre a crise dos 25 anos. Bem, então temos a crise da adolescência, da “balzaquiana” que é por volta dos 30, dos 40, da velhice, da solteira, dos 7 anos de casamento, da viuvez, etc. Quer dizer, estamos sempre às voltas com alguma crise. Viver bem é um constante desafio, isso é viver.
A vida não anda em linha reta, embora possamos construir a ilusão que é possível termos uma estabilidade. A vida é dialética, é repleta de imprevistos e nos mantermos bem é um compromisso diário.
Acredito que uma mulher madura tenha algumas vantagens pois já ultrapassou a angústia dilacerante da juventude e possui uma maturidade para buscar bons caminhos.
Mas não temos um manual de como viver melhor, podemos pois, respeitar nossa subjetividade, essa é uma das chaves que abre a porta daquilo que chamamos “felicidade”.
Pergunta: Como é possível se preparar para a velhice? Por medo de ficar com a aparência envelhecida, muitas não aceitam a velhice e exageram nas cirurgias plástica?
Resposta: A aparência determina em muito as relações. Não condeno as cirurgias, muitos sofrimentos são amenizados após correções cirúrgicas.
Mas a falta de critério é que se constitui em problema. Meninas botando silicone ou aplicando botox? Se as meninas estão fazendo isso o que resta para as mulheres de 40, 50 ou 60 anos?
E ainda por que as mulheres precisam de um modelo tão cruel de beleza? Rugas são marcas de vivência e isso não é bom?
Viver pode trazer maturidade, sabedoria e muitos momentos felizes, esconder isso seria desfazer uma inscrição significante.
Pergunta: Como lidar com o ato de envelhecer? O que mulheres podem fazer para envelhecer com uma mente sadia?
Resposta: O envelhecimento é um processo, não nos tornamos velhos aos 60 anos. Construímos nossa velhice todos os dias, a forma como nos alimentamos, os exercícios físicos que fazemos ou que deixamos de fazer, as escolhas financeiras, as amizades que vamos mantendo ou que vamos nos distanciando, isso tudo é determinante, pois, hoje construímos o envelhecimento de amanhã.
Nunca vi uma pessoa mal humorada se transformar num idoso alegre, não é possível uma pessoa que não cuida da alimentação, que não faz exercício físico deixar de ter problemas como, diabetes, colesterol alto, pressão alta, osteosporose ou outras doenças.
A mente sadia depende também de um corpo sadio. É fundamental uma pessoa que está no processo de envelhecimento, manter a independência física, as relações de amizade e o bom funcionamento mental.
Para isso é crucial ter atividade prazerosa e de acordo com Iván Izquierdo, um dos mais importantes especialistas em memória do mundo, devemos ler. Ler literatura é um dos únicos remédios preventivos do mal de Alzheimer, uma doença degenerativa avassaladora. Isso tudo pode ser feito para pessoas que estão num processo de envelhecimento, mas, quem não está?
Velhos Espaços?
Com quantos projetos sonhamos ao longo da vida? Um dos primeiros é ter a própria casa. Desde a tenra infância somos conduzidos pelo desejo de ocupar espaços. Com o passar do tempo, mudam os espaços, alteram-se as necessidades, mas o fato é que passamos a vida construindo. Construímos não apenas as pontes que nos ligam as pessoas, mas também os muros que delas nos separam.
Edificamos protegidas fortalezas para que possamos continuar a busca pelo inconstante bem-estar. Gaston Bachelard escreveu um belo livro chamado A Poética do Espaço para demonstrar porque “a casa é nosso canto no mundo.”
É interessante analisar o quanto a arquitetura de um espaço abriga não somente o dia-a-dia, mas uma história feita de antigos tesouros e valiosos planos futuros. Segundo Bachelard: “a casa é uma das maiores forças de integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem.”
Uma casa com seus cantos e refúgios, é muito mais que um lugar para morar. É um abrigo que aninha desejos, lembranças, incertezas e temores. E mais, o autor comenta que a casa natal grava em cada de nós a forma de habitar e que em outras casas repetimos aquelas marcas que carregamos desde a infância. Buscamos um bem-estar que se não tivemos, acreditamos que deveríamos ter tido.
Considerando que uma casa realmente seja muito mais que um simples lugar de morar, proponho que possamos refletir sobre a moradia dos idosos. Em geral, os mais jovens procuram opinar, querem reformar, buscam mudar as coisas dentro da casa dos idosos, mas para quem serve a mudança?
Se a casa é um refúgio que resguarda o sujeito das invasões do mundo, desalojar lembranças é como retirar as histórias dos seus devidos lugares. Exigir mudanças na casa dos mais velhos, é pedir para que eles se desfaçam de momentos significantes de suas vidas.
A memória, as lembranças funcionam como um laço que prende um idoso à vida, cortar tal amarra seria interessante? Entretanto, é importante adaptar o ambiente para os idosos, as quedas são muito frequentes e acabam incapacitando, às vezes, por um longo período. Aí entra o papel dos arquitetos.
Projetar, edificar, transformar sonhos, expectativas e desejos em um espaço habitável é uma arte. A dialética entre os espaços interiores e os espaços exteriores poderá ser harmonizada por um profissional da arquitetura que conseguir escutar. Refiro-me ao escutar, realmente, àquilo que a pessoa diz e não o que se quer ouvir.
Acredito que um profissional dessa área terá destaque na medida em que conseguir aliar técnica com escuta. A obra de Bachelard aponta alguns caminhos para o entendimento do que seja verdadeiramente uma moradia.
Seja uma casa para jovens, seja um lar para idosos, convém lembrar que sempre carregamos nossas lembranças. O sótão e o porão, o mistério e o medo estarão conosco em qualquer casa que habitarmos.