Natal

Natal não é só em dezembro!

         O natal é com certeza a ocasião em que, coletivamente, os sentimentos ficam mais aflorados. É uma época em que os preparativos, a expectativa e uma espécie de renovação contaminam a maioria das pessoas. Não é possível fugir do natal, mesmo àqueles que não comemoram, seja por escolha, seja por impossibilidade, vivenciam esse momento.

         O Natal, não é tão poderoso por acaso, sua força advém de duas divindades: o menino Jesus e o Papai Noel. Mas, por que uma comemoração sagrada acabou sendo associada a uma figura mítica? O Papai Noel sempre foi um presenteador. Porém, ele nasceu como uma figura caridosa e somente recentemente, ele passou a ser um garoto propaganda, transformando-se em uma peça fundamental da economia industrializada.

         Se por um lado a industrialização do Natal é recente, por outro, o impulso para gastar é bastante antigo. A comemoração natalina com o aspecto que conhecemos hoje remonta a muitos séculos atrás, onde a generosidade consigo próprio e com os outros já marcava as festividades. A comemoração cristã do nascimento de Jesus e a tradição romana de festejar a Saturnália, foram marcando dezembro, como a época mais importante do ano.

Natal não é só em dezembro!

Mesmo assim, um personagem caridoso e presenteador surgiu apenas por volta do século XII, com São Nicolau, que alguns historiadores consideram uma lenda. Existem duas hipóteses principais: a primeira é de que o jovem Nicolau salva algumas donzelas da escravidão e da prostituição, distribuindo ouro ao pai delas, que agradecido espalha a notícia. A segunda hipótese é a de que São Nicolau é um bispo idoso que descobre corpos esquartejados de estudantes e devolve a vida a eles. Assim, são Nicolau foi ganhando fama de protetor dos estudantes, das crianças e das donzelas.

         Por discussões religiosas, aos poucos, são Nicolau foi sendo substituído pelo Menino Jesus. Mesmo assim, essa mudança não ocorreu de forma homogênea por todo o mundo e por volta de 1800 são Nicolau ainda era reconhecido como um presenteador. Mas, uma importante mudança ocorreu, nessa época a nacionalidade de são Nicolau foi americanizada. Em 1810, nos Estados Unidos, circulou um poema “batizando” o presenteador como Papai Noel e a partir de então, sofreu uma série de alterações em sua imagem, mas que nunca mais abandonaria o cenário mundial.

Convém observar que Natal muda significativamente quando deixa de ser uma manifestação popular – era uma espécie de carnaval – e se transforma em uma festa domesticada. É possível pensar que aquilo que era extravasado no ritual da festa passa a ser contido a tal ponto, que hoje em dia a catarse só pode ser manifestada através da orgia alimentar e comercial. O consumo por artigos concretos – tênis, sapatos, bolsas, carros, aparelhos eletrônicos, etc. – é a expressão de algo ancestral: a renovação, a generosidade, a espiritualidade e a “marcação” da mudança.

         Assim, os aspectos genuínos e significativos da vida, foram substituídos por apelos ao consumo que desviam e abafam a essência do ser humano. Cabe refletir sobre o Natal não apenas em dezembro, quando o comércio seduz para que a generosidade e a renovação sejam adquiridas em alguma loja. Afinal, alguém pode comprar sentimentos?

Márcia Tolotti é professora em MBAs, palestrante, colunista e escritora. Psicanalista pelo CEL e EEP (entidade vinculada à Associação Lacaniana Internacional); Graduada em psicologia, pós-graduada em psicologia clínica, pós- graduada em psicologia organizacional, exercendo desde 1993 atividades em sua clínica psicanalítica; Mestre em letras e cultura e MBA em Marketing pela FGV; Assessora e coordena a implementação de programas de educação financeira in company,desde 2006, em importantes empresas; Criadora do curso que apresenta o Método STOP (aliando fundamentos da economia, psicanálise, psicologia econômica e neuromarketing). Sócia executiva da Moddo Conhecimento Estratégico. Autora com mais de 50 mil exemplares vendidos. Escreveu “As Armadilhas do Consumo”, editora Campus; “Passageiros do Outono” e “Agricultura Lucrativa Familiar”, editora do Maneco, escreveu “O Desafio da Independência” após pesquisas e cursos ministrados em empresas, numa linguagem clara e acessível para pessoas que buscam construir planejamento financeiro.