“Existe alguma forma de livrar a humanidade da guerra?
Atacar o problema de forma profissional e prática /só gera/ impotência.
O intenso desejo de poder, que caracteriza a classe governante em cada nação, é hostil.
E ainda, como a guerra desperta um entusiasmo extremado nos homens a ponto de sacrificarem suas vidas?
Pode haver uma resposta, é porque o homem tem dentro de si um desejo de ódio e destruição. Em tempos normais, isso fica latente, em tempos anormais, chegamos a psicose coletiva”.
Albert Einstein, 1932
O trecho acima é parte de uma carta que Einstein enviou para Freud. Abaixo, trechos da resposta:
“Quando os seres humanos são incitados à guerra, podem ter toda uma gama de motivos – uns nobres, outros vis, alguns declarados, outros jamais mencionados. Entre eles está certamente o desejo da agressão e destruição.”
Freud, 1932
O desejo de agredir e destruir pode ser uma explicação para a forma como o mundo vive, não apenas com a guerra entre Ucrania e Russia, mas explica também porque uma jovem sai de casa portando uma soqueira para “brincar” no carnaval, porque um imigrante é morto a pauladas, porque existem os cancelamentos nas redes sociais, ou ainda, porque amigos deixam de se falar por possuírem opiniões diferentes.
Estamos impotentes, alienados afetivamente e morrendo coletivamente.
Quase um século se passou e as questões são as mesmas, então fica difícil deixar de questionar se realmente estamos evoluindo enquanto humanidade.
Independente das razões econômicas ou políticas e apesar dos motivos racionais, como podemos explicar a incapacidade em encontrar uma solução amistosa, sem que os horrores de uma guerra sejam cometidos e repetidos?
A guerra é mundial, mesmo que esteja situada em alguns países, porque estamos todos no mesmo barco, no barco chamado terra, no mar chamado humanidade, ou seria desumanidade?
O quê fazer agora? Por enquanto, compreender um pouco da mente humana para, quem sabe, atenuar a psicose coletiva da qual Einstein fala.
Vamos partir do princípio de que os seres humanos são regidos por dois instintos básicos: preservação e destruição. Nenhum é mais importante, a vida se dá na constante luta e “mistura” entre eles. Como isso funciona?
A autopreservação ligada a vida (tecnicamente chamado de pulsão de vida – Eros) precisa de alguma contribuição do instinto de destruição, manifestado pela posse, em algum grau, para atingir seu propósito.
Quer dizer, uma dose de egoísmo, posse e imposição é necessária para que possamos sobreviver e isso está ligado ao instinto de destruição (tecnicamente chamado de pulsão de morte – Tânatos). Portanto, não vamos deixar de travar lutas externas porque internamente, em nossas mentes e corações, vivemos a dualidade entre vida e morte, amor e ódio. Mas a essa altura da suposta evolução humana, já deveríamos ter encontrado formas menos primitivas para resolver nossos conflitos.
Volto a questão, o quê podemos fazer agora? Podemos nos aliar ao nosso instinto de preservação da vida, apostar nos relacionamentos sendo mais amorosos, usar nossa inteligência emocional para conter o “instinto assassino” que habita em nós, frear nossas palavras que tanto ferem.
Nos locais em que trabalhamos podemos tentar evitar as “quedas de braço” por minúsculos poderes e voltar nossa energia libidinal, de vida para crescermos como civilização, porque como diz Freud: “tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra”.