O Mito do Natal

O Mito do Natal

Se por um lado, natal significa nascimento assim como vemos na raiz etimológica – latim nātālīcĭus – e nas religiões, por outro lado, há o mito moderno de que natal é, obrigatoriamente, presentear.

Ainda que não nos detivéssemos por um tempo demasiado sobre as motivações, sejam conscientes ou inconscientes, sobre os porquês damos presentes, não podemos deixar passar em branco o momento mais apelativo em relação aos mimos doados aos outros ou a nós mesmos.

Não há nenhum problema em associar o significado mais autêntico do natal – que é nascimento – com presentes. O problema é transformar o natal em apenas um grande, irrestrito e “selvagem” comércio! Todo exagero é maléfico, toda dose excessiva pode ser venenosa.

Nossa cultura elimina o significante da esperança no amor e na possibilidade do ser humano evitar o sofrimento próprio ou alheio, e, esquece que o presentear pode ser um momento simbólico. Um presente é uma forma simbólica de reconhecimento, agradecimento, carinho e afetuosidade. Jamais será um momento de endividamento. A menos, é claro, que a dívida já esteja no coração e na mente do comprador.

Como assim? Reflita um pouco. Se uma pessoa vai presentear outra, ou a si mesma, e se o presente é um símbolo, não haveria nenhum risco de alguém comprar algo além das suas posses. Ou ainda, não existiria nenhuma probabilidade de algo que deveria ser bom e carinhoso, como é um presente, se tornar um sofrimento por algum endividamento financeiro posterior.

Quando algo potencialmente salutar encontra o caminho tortuoso ou torturante, é sinal de que apenas a intenção consciente não é suficiente para chegar no caminho da “felicidade”. Por que digo isto tudo? Porque é fundamental refletir e fazer as contas antes de querer agradar alguém. Nos meses seguintes ao Natal, o índice de endividamento e inadimplência aumenta, vertiginosamente, no Brasil.

Milhares de pessoas sofrem pensando como irão sanar suas dívidas. Arrependimentos, culpas, angústias e ressentimentos são adquiridos junto com as compras mal planejadas, ou ainda, por reparações deslocadas. Desejo que você possa ter um Natal e um Ano Novo sem que os afetos se transformem em dívidas financeiras!

Márcia Tolotti é professora em MBAs, palestrante, colunista e escritora. Psicanalista pelo CEL e EEP (entidade vinculada à Associação Lacaniana Internacional); Graduada em psicologia, pós-graduada em psicologia clínica, pós- graduada em psicologia organizacional, exercendo desde 1993 atividades em sua clínica psicanalítica; Mestre em letras e cultura e MBA em Marketing pela FGV; Assessora e coordena a implementação de programas de educação financeira in company,desde 2006, em importantes empresas; Criadora do curso que apresenta o Método STOP (aliando fundamentos da economia, psicanálise, psicologia econômica e neuromarketing). Sócia executiva da Moddo Conhecimento Estratégico. Autora com mais de 50 mil exemplares vendidos. Escreveu “As Armadilhas do Consumo”, editora Campus; “Passageiros do Outono” e “Agricultura Lucrativa Familiar”, editora do Maneco, escreveu “O Desafio da Independência” após pesquisas e cursos ministrados em empresas, numa linguagem clara e acessível para pessoas que buscam construir planejamento financeiro.