No final do século 19, enquanto o Brasil se tornava uma república, as relações de consumo no mundo estavam focadas no produto. Embora não fosse o primeiro ciclo que o Brasil enfrentava – tivemos um largo comércio, principalmente, de escravos – a propaganda começava a ganhar força.
Com o fomento, e consequente aumento da demanda por consumo – sabemos que independe o produto, pois a insatisfação deixa espaço, para qualquer coisa, ser consumida a toda hora – o crédito foi igualmente, ganhando espaço. Da forma como o crédito começou que era o “fio do bigode”, “passando pela caderneta da padaria” até chegar ao “cartão de crédito”, algumas coisas mudaram, mas a maior diferença está no prazo de pagamento e nos juros que foram sendo incluídos. Mas, se o crédito está diretamente vinculado a algum grau de endividamento, todas as dívidas são ruins?
Certamente não e para esclarecer de modo prático a diferença entre uma dívida considerada boa e outra ruim, vamos utilizar os ensinamentos de Jon Hanson. O autor – e ex endividado – definiu as dívidas boas como as que geram um fluxo de caixa superior ao do custo da dívida e que aumentam o patrimônio. E, a dívida ruim como aquela em que os bens de consumo não duráveis são adquiridos e geralmente são motivadas pelas emoções.
O que temos presenciado na sociedade contemporânea é a presença cada vez mais intensa do consumo por bens descartáveis, dado através de uma hipnose coletiva do consumo pelo consumo.
As dívidas são em sua grande maioria ruins pois o crédito não está sendo usado para aumentar patrimônio ou gerar novos negócios, e sim, para manter um padrão de vida acima das possibilidades reais.
Assim, endividar-se assumindo crédito sem a possibilidade de pagamento é, atualmente, uma prática banal, comum e, de certo modo, esperado. Infelizmente, é um consumo, que consome as pessoas em sua essência.
Aproveite para conferir o vídeo “Tenho dívidas, o que fazer?”
Márcia Tolotti