Vivemos uma era em que é difícil identificarmos o que realmente queremos e o que somos impelidos a fazer, embora tudo conspire para que tenhamos certeza de que “se podemos” algo, então “devemos” fazer. E para quem se pergunta, qual é o problema disso, vale pensar um pouco mais sobre o assunto.
Diversos especialistas têm demonstrado que a sociedade vive um imperativo de “satisfação comprada”, quer dizer o mercado se propõe a nos oferecer felicidade, apaziguamento de angústia e garantia de sucesso bastando apenas que paguemos a fatura. Como não há nenhum limite nestas operações, deixamos de nos escandalizar com o excesso e quando isso acontece, passamos a acreditar que há uma espécie de permissão. Funciona mais ou menos assim, como a oferta incessante de objetos não nos escandaliza “achamos normal” e passamos a pensar que é natural comprarmos o tempo todo.
Construímos como valor de verdade que o Mercado sabe o que queremos e precisamos, aquilo que de fato vai nos preencher, desta forma, só nos resta adquirir tais objetos e para quem duvida daquilo que a psicanálise anunciava há anos, pode se basear no neuromarketing que é estudado pelos grandes varejistas. Estudos comprovaram que pessoas felizes e satisfeitas não consumem, então para quem quer vender muito, se trata de garantir uma satisfação efêmera e uma dose adequada de insatisfação para gerar uma nova compra.
Assim se constrói uma demanda, quer dizer, uma espécie de obrigação em cumprir algo sem critica. O pensamento crítico leva à escolha, e a escolha leva à renúncia. Significa dizer que naqueles momentos em que apesar de você ter dito a si mesma que não iria comprar e acabou comprando, não estava escolhendo, não estava livre, mas presa em um mandato inconsciente que lhe obrigava a adquirir algum dos ícones impostos pelo mercado seja através do carro, da marca da roupa, da viagem ou do livro, tanto faz.
Quando tomamos uma decisão baseados na justificativa que “estamos fazendo porque podemos”, estamos repetindo um comportamento e nosso pensamento crítico está “deitado em uma rede” acreditando que é livre quando simplesmente está obedecendo e adotando uma ação que é esperada de nós.
E sem alarmes de teoria da conspiração, enquanto consumidores, devemos conhecer qual é nossa função e a serviço de que estamos quando acionamos nosso cartão de crédito. Quando escolhi o título deste artigo foi inspirada na leitura do texto de Maria Rita Kehl, uma das maiores pensadoras brasileiras chamado a Violência do Imaginário, que nos faz pensar quem somos e o que fazemos quando resolvemos tirar nosso pensamento do sedentarismo, dá trabalho, mas quem disse que liberdade é sinônimo de férias?